Projeto ATIVA PARKOUR

 Projeto Ativa Parkour


Promover o parkour pela Região dos lagos não é uma idéia nova, porém o projeto surgiu realmente há pouco. Nomeada ao acaso no dia 03 de setembro de 2010, depois de uma breve conversa entre Nicolau ‘Sparta’ de São Pedro (Malta e Yagami) e Thiago ‘Kinésis’ de Cabo Frio (WTF’ e Yagami). Uma conversa despretensiosa sobre o rumo e a falta do parkour nas cidades vizinhas levantou e reascendeu a vontade de trabalhar a atividade na região, e trouxe uma gama de idéias sobre a cena da atividade na Região dos Lagos. Entre os assuntos debatidos, chegou-se ao consenso que a formação de grupos e a desnecessária perda de tempo na organização do mesmo quanto ‘entidade’, diretamente atrapalha o desenvolvimento do parkour, além de sobrecarregar o tracer e dificultar sua evolução.
Não se sabe se por omissão, falta de pessoas ou simplesmente por não necessitar, o parkour na Região dos Lagos nunca foi divulgado abertamente. É certo que mais cedo ou mais tarde alguém vai conhecer gostar e treinar, porém sem nenhum acompanhamento ou noção da real filosofia da atividade. Daremos apoio e suporte no que necessário.
A Intenção do projeto não é reconhecimento com a divulgação, e sim, a simples ATIVAÇÃO de treinos de parkour FIXOS e CONSTANTES nas cidades visitadas, tendo assim locais variados de treino e pessoas inseridas na atividade, para que futuramente possamos criar uma Associação, caso necessário.
A falta de conhecidos nas cidades vizinhas, o desconhecimento do local e a falta de horário dificultavam na tentativa de aproximação. No entanto, já temos um número aceitável de possíveis contatos nas localidades próximas dos municípios com o PK ATIVO: São Pedro d’Aldeia e Cabo Frio, e agora também, Arraial do Cabo.
Com um conceito simples, o projeto consiste em tour com treinos e busca de pessoas pela própria cidade e depois em cidades vizinhas. Atualmente três cidades têm praticantes ativos, e contamos com aproximadamente 10 cidades na Região dos Lagos. O objetivo inicial é ter as mais conhecidas com o parkour em atividade, sendo elas: Araruama, Saquarema e Búzios.
Projetada com o objetivo de divulgar o Parkour na Região dos Lagos e interior do estado do Rio de Janeiro, O PROJETO ATIVA PARKOUR NÃO É UM GRUPO, E É...

(...) fortemente contrários a idéia de competições organizadas de Parkour.
Nossas razões:
1.

A. Não acreditamos em elites.
B. Não acreditamos em nenhuma forma de distinção entre os praticantes.
C. Não acreditamos na necessidade de se criar qualquer forma de hierarquia de habilidades entre os praticantes.
D. Acreditamos que “o melhor” não significa nada dentro do Parkour, pois vencer ou perder também não tem a menor importância para a filosofia.
E. Não aceitamos tal princípio como parte da filosofia do Parkour.

Ao contrário: Acreditamos que o motivo por qual se treina deve somente, e sempre, ser um chamado interior. Esforçamo-nos para sermos fortes, por nós mesmos e pelos outros. Não queremos ir de contra outras pessoas, mas treinarmos com elas e por elas. Portanto, rejeitamos e desencorajamos qualquer forma de rivalidade entre os praticantes. E fazemos o inverso: valorizamos a solidariedade e o respeito mútuo para obtermos sucesso tanto como indivíduos quanto como comunidade.

2.

Acreditamos que vai de contra a filosofia do Parkour competir pela vitória ou pelo ganho de qualquer outra coisa que não faça parte dos valores da atividade. Como por exemplo: medalhas, prêmios, troféus, dinheiro, fama, reconhecimento ou glória. O mesmo se aplica aos que buscam exibicionismo para o público. Ao contrário: Procuramos não cobrar nada e beneficiar todas as pessoas com as nossas ações. Almejamos também benefícios que todos possam compartilhar. “Somos doadores, e não receptores.”

3.

A competição encoraja que a pessoa despreparada sacrifique sua saúde por uma breve vitória, ou para conquistar um título que não tem valor algum. Ela força que competidores de elite constantemente e repetidamente arrisquem o seu mais precioso bem, a saúde, em busca da obsessão e da obrigação de obter a vitória, ou qualquer outro benefício como: dinheiro, posição ou prestígio, aumento do ego, contratos profissionais e comerciais e acordos remunerativos. Isso leva o praticante a desregular o seu treino e focar-se somente em habilidades específicas que deve adquirir para vencer, conduzindo-o assim a lesões crônicas. Apesar das negações oficiais, o uso de doping está relacionado a todos os tipos de competições, seja com envolvimento de dinheiro ou não. Acreditamos que a conseqüência física de se participar de competições de alto nível é contra a filosofia do parkour, pois a ênfase da atividade reside na moderação e na necessidade de fortalecimento. Ao contrário: O Parkour é uma atividade humilde, paciente e pra toda a vida. O corpo humano necessita desse condicionamento para assegurar sua resistência e longevidade. Moderação é um dos valores mais importantes no Parkour e é uma qualidade indispensável para a preservação de si mesmo e para o fortalecimento do corpo. Portanto, rejeitamos qualquer coisa que vá de contra essa moderação e provoque agressões ao corpo.

4.

O Parkour não pertence às corporações, patrocinadores, mídia, e pessoas que ficam somente sentadas para assistir. Acreditamos que nós NÃO devemos apoiar atividades e projetos que utilizem o nome do Parkour e que venham a manchar seu nome e divulgar ao público e na mídia uma atividade que NÃO condiz com a disciplina; ignorando assim a resistência da maioria das comunidades contra tais intenções. Ao contrário: Afirmamos que Parkour é uma disciplina não competitiva que pertence a todos os seus praticantes, as comunidades locais, aos grupos e amigos e a raça humana de uma forma geral. Acreditamos que devemos permanecer unidos e contra essas ambições que não refletem a filosofia original e que desrespeita tanto a ela quanto a todos da comunidade.



A FAVOR DO PARKOUR, CONTRA COMPETIÇÃO!
“Corra sem rivais”
Originalmente por:
Duncan Germain e Erwan Le Corre
Tradução e adaptação: Eduardo Rocha (duddu)

Planejamento do Projeto:

1ª Fase: (Tempo indeterminado)

Os tracer residentes percorrerão sua cidade em busca de locais de treino e novos praticantes.
Objetivo: Ganhar conhecimento da própria cidade, tirar o maior proveito o possível e ganhar mais pessoas para a prática.
Documentar com fotos e vídeos cada momento.

2ª Fase: (Tempo Indeterminado)

Intercâmbio entre os tracers das cidades vizinhas.
Objetivo: diminuir a distância entre os praticantes, e aumentar a amizade entre eles.
Documentar com fotos e vídeos cada momento.

3ª Fase: (Tempo Indeterminado)

Manter o contato com os novos praticantes e dar apoio no que for necessário.
Objetivo: Começar o PROJETO ATIVA PARKOUR. Aqui começa o processo.
Documentar com fotos e vídeos cada momento.

Pontos importantes:

A escolha da cidade deve ser feita com base em:

· Contato no local;
· Possível conhecimento do local;
· Distância de viagem;
· Horário do ônibus;

O Tracer envolvido no projeto deve:

· TER COMPROMETIMENTO COM O PROJETO
· Ter uma boa postura quanto tracer (Leia ‘Comportamento de um tracer’ e ‘Prudência e respeito nos locais de treino’);
· Uma bagagem teórica da atividade. (ter assistido Documentários; lido artigos e ter uma noção da cena atual do Parkour no Brasil e no mundo)
· Ter plena consciência da filosofia da prática (Leia: ‘Parkour, Filosofia E Ética’)

Comportamentos de um Tracer

1)Respeitar as pessoas

O parkour é uma atividade mal interpretada desde seu surgimento. Muitos ainda têm conceitos obscuros quanto a pratica e ao tipo de finalidade do Parkour. Independente disso é importante que se respeitem as pessoas, desde aquele que admira até aqueles que detêm propriedades que são usadas para o treino. Evite discutir com seguranças, donos de estabelecimentos, guardas e outros tipos de pessoa que possam vir a reclamar da sua presença naquele local. Se for abordado, simplesmente pegue suas coisas de deixe o local.
Não deixe que a grosseria de alguns te tire do sério, não vale a pena discutir com pessoas que não entendem aquilo que você esta fazendo. Deixe o local sem discutir com a pessoa ou no máximo tente explicar o que estava fazendo para que eles entendam que você não é um vândalo e sim alguém que procura se exercitar de forma diferente. Tomando estas atitudes você não deixa a imagem do praticante como sendo a do cara que destrói e vai embora ou daquele que discute com os guardas e seguranças.
Procurar lugares onde exista pouca circulação de pessoas. Parkour não é exibicionismo e, portanto, não precisa ser praticado em lugares com muita concentração de pessoas. Outro detalhe é que geralmente nos lugares mais tranqüilos não tem seguranças e você pode treinar o que quiser como quiser da maneira que quiser, sem ser atrapalhado por ninguém.

2)Respeite o local

O tracer é aquele que respeita o lugar onde pratica. O ideal é que o lugar se mantenha nas mesmas condições em que você encontrou quando chegou para treinar. Procure não quebrar, sujar, denegrir o lugar por onde passa. Manter o ambiente onde treina é importante porque evita uma série de transtornos, garante sua segurança e faz com que você tenha cada vez mais lugares para treinar.

3)Treine para você

Quando for treinar, treine para si mesmo. O parkour é uma prática que prega o desenvolvimento do ser humano por meio de autoconhecimento e de treino. Ninguém é 'igual a ninguém', por isso comparações do tipo "Fulano é melhor do que ciclano" são inválidas.
O ponto chave do Parkour é se fortalecer, se preservar, se manter praticando, melhorar constantemente e procurar ajudar aqueles que desejam praticar também. Não adiantam treinar várias horas todos os dias se você não descansa e depois tem que parar em definitivo. (Fato que particularmente eu já presenciei diversas vezes) Parkour não é aquilo que você é, mas sim aquilo que você pretende ser. Treinar e fazer as coisas da forma mais saudável possível ainda é o melhor caminho para chegar num grau de entendimento adequado.

4)Seja Prestativo

Treinar Parkour é algo prazeroso e para poucos privilegiados. Vale lembrar que muitas pessoas não têm condições de vida adequadas e não podem dar-se ao luxo de pararem suas vidas por alguns instantes para praticar.
Alem de treinar, procure ser prestativo quando alguém te perguntar como você faz determinado movimento. Tentar explicar um movimento é bom, porque faz com que você entenda melhor o que você faz e, alem disso, faz com que outras pessoas possam entender e trocar idéias sobre como fazer isso ou aquilo. A troca de informações sobre técnica é o que vai permitir com que se façam mais coisas com menos uso de força. Fora que você pode aproveitar este meio tempo da explicação para dar uma descansada ou comer uma fruta

5)Treine sério e silenciosamente

Procure treinar sério sempre. Treinar sério exercita sua concentração e faz com que o seu treino renda muito mais do que aqueles treinos palhaçada onde cada um faz algo aleatório durante um determinado tempo. É claro que existem os momentos de diversão, mas via de regra, procure treinar sério sempre que possível.
Um treino realmente sério pode ser intenso ou não. Algumas pessoas treinam de maneira intensa, revezando os treinos da parte superior do corpo com os da parte inferior, geralmente são treinos que ocupam de duas a três horas. Não precisa de mais tempo do que isso, pois o treino foi focado e o corpo se sente confortável e exercitado. Ou então, pode se treinar de forma menos intensa onde você vai aplicar ciclos de intensidade muito grande com momentos de descanso. Procure fazer algo novo nos treinos. Seja uma barra a mais, um planche, um saut de chat que você nunca fez. Fazer coisas novas vai te dando cada vez mais segurança sobre sua força e sobre sua capacidade de mensurar as coisas. Deixe as coisas realmente difíceis pra aqueles dias em que você sente que o seu corpo e sua concentração estão em 105%.
Tente sentir que está dia apos dia progredindo, treinando sempre a parte básica pelo maior tempo possível. Digo isso porque já vi muitos e muitos praticantes tendo que parar de praticar por certos momentos de excesso de confiança sem ter a força necessária para se fazer determinadas coisas (Desde quebrar a clavícula até cair de grandes alturas). Praticar o básico não mata ninguém, pelo contrário, só fortalece e o faz de maneira segura e confortável. Quando praticar o básico, foque nas repetições e em como elas estão sendo feitas. Não adianta fazer 30 precision, onde apenas 5 foram realmente bons. Procure fazer um índice onde só se podem contar os movimentos feitos de forma exímia/correta/adequada/precisa. E não comece fazendo muitas repetições, pois, mesmo um pulo de 50 cm de altura feito 100 vezes pode deixar os seus músculos e juntas em pedaços. Vá semana a semana, ou mês a mês aumentando as repetições, sempre tentando conscientizar o movimento, sua saída, sua chegada e repetição a repetição, vá tentando buscar mais velocidade, sem pecar nos quesitos anteriores.
Quanto ao silencio, procure sempre se movimentar de forma silenciosa e mantenha o silencio no lugar onde esta treinando. Isso facilita a concentração e faz com que você fique focado no seu movimento e no barulho que ele faz. Procure evitar chamar a atenção com gritos, barulhos, movimentos errados e quedas. Se mover de maneira silenciosa também demanda muito mais força dos músculos do que se mover sem essa consciência. Alem de ajudar no ganho de força isso faz com que você tenha mais tato sobre onde esta cada parte do seu corpo e como que ela devera abordar as superfícies de forma a não gerar barulho.

Esse artigo é uma tradução do texto original escrito pelo Owen em:
http://cambridgeparkour.blogspot.com/2006/07/ethics-of-training.html

PRUDÊNCIA E RESPEITO NOS LOCAIS DE TREINO

1. Preserve o ambiente em que você treina.

Isto não precisaria nem ser citado aqui, por se tratar de uma questão moral e de valor universal. Não apenas você deve manter essa atitude de preservação no ambiente de treino, mas em todo e qualquer ambiente em que você esteja. Vandalismo é crime! É nossa obrigação manter o local intacto, até porque nós precisamos dele para treinar. Seria uma tremenda burrice destruir algo que você necessita para treinar e evoluir.

2. Respeite as pessoas ali presentes.

Se o local é público, todos têm direito de usufruir da rampinha, do corrimão, do banquinho e até dos muros. Lembre-se que você apesar de, na maioria das vezes, estar de acordo com as normas, está praticando algo muito incomum e alternativo. Por mais conhecido que o Parkour seja não pense que as pessoas não irão notar você pulando muros por aí. Nenhuma das estruturas em que treinamos - até agora - foram feitas pro Parkour, então se ao treinar você está atrapalhando a caminhada ou os exercícios de alguém, isso poderá lhe render problemas. Para evitar confusão, escolha treinar em obstáculos onde não haja passagem constante de pessoas. Se você estava treinando monkey com precisão em uns ferrinhos e de repente aparece uma criança com um quadricículo, simplesmente se retire e vá treinar outra coisa em outro lugar por enquanto. Seja prudente e evite situações inconvenientes.

3. Mostre argumentos coerentes às autoridades.

Caso alguém venha lhe repreender, explique calmamente que o que você pratica é uma atividade séria, que recebe apoio da Prefeitura de Recife na realização de encontros e outros eventos de Parkour. Que Recife, inclusive, já foi sede de um encontro nordestino.
Diga que você preza pela integridade do ambiente tanto quanto ele e que você PRECISA de tudo aquilo inteiro para poder seguir com seus treinos. Não é seu objetivo vandalizar, nem atrapalhar e faltar respeito com as pessoas presentes naquele local. Peça desculpas caso você tenha incomodado alguém e diga que irá prestar mais atenção da próxima vez e que agora irá treinar em outro lugar enquanto houver pessoas utilizando a área.

Mantendo o respeito, sendo consciente, se pondo no lugar dos outros e tendo sempre prudência ao treinar. Muitas situações desconfortáveis poderão ser evitadas.
Escrito por: Lucas Santos (Parkour Recife)



PARKOUR, FILOSOFIA E ÉTICA

“Já trazes, ao nascer, tua filosofia.
As razões, essas vêm posteriormente,
Tal como escolhes, na chapelaria,
A fôrma que mais te assente...”
(Mário Quintana)

É notável o interesse, de novos praticantes e tracers, em definir uma filosofia para o Parkour.
Mas afinal, o que é filosofia? Não faz sentido algum discutir a filosofia sem ao menos saber o que a palavra significa. E o mais interessante é que ao tentarmos definir esse domínio chegamos a concluir que não existe apenas uma definição, mas várias. E além de várias, essas definições parecem contradizer-se. Às vezes tenho a impressão de que o mesmo fenômeno acontece com o Parkour.
1. Do dicionário de língua portuguesa¹:
Do Lat. Philosophia < Gr.philosophía, amor ao saber
s.f. ciência geral dos princípios e das causas
investigação dos princípios essenciais que supõem uma ciência particular;
doutrina filosófica;
razão, sabedoria;
força moral e elevação de espírito com que o Homem se coloca acima dos preconceitos;
amor ao saber.
2. Do dicionário de filosofia²:
Do grego, amor ao conhecimento ou à sabedoria, a filosofia consiste no estudo das características mais gerais e abstratas do mundo, e das categorias com que pensamos: mente, matéria, razão, demonstração, verdade, etc. Em filosofia, são os próprios conceitos através dos quais compreendemos o mundo que se tornam tópico de investigação.
¹http://www.priberam.pt/dlpo/dlpo.aspx
²BLACKBURN, S.Dicionário Oxford de Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 1997. (trad. Danilo Marcondes).

Nota-se em comum pelo menos quatro definições gerais do que seria Filosofia:

1) Visão do mundo:
Aqui a Filosofia corresponde ao conjunto de idéias, valores e práticas pelos quais uma sociedade aprende e compreende o mundo e a si mesma.

2) Sabedoria de vida:
Aqui a filosofia seria uma espécie de contemplação do mundo e dos homens para nos conduzir a uma vida justa, sábia e feliz, nos ensinado o domínio sobre nós mesmos, sobre nossos impulsos, desejos e paixões.

3)Esforço racional para conceber o Universo como totalidade ordenada e dotada de sentido:
A Filosofia nessa definição procura discutir até o fim o sentido e o fundamento da realidade, e isso por esforço racional.

4)Fundamentação teórica e crítica dos conhecimentos e das práticas:
Capta a Filosofia como análise (das condições de tudo o que nos cerca), como reflexão (isto é, volta da consciência para si mesma para conhecer-se enquanto capacidade para o conhecimento, o sentimento e a ação) e como crítica (das ilusões e dos preconceitos individuais e coletivos, das teorias e práticas científicas, políticas e artísticas).

Essas quatro definições não estão totalmente corretas se analisadas isoladamente. Na verdade uma definição precisa só pode vir da união dessas quatro definições, pois a Filosofia é tudo isso.

E então, o que isso tem a ver com Parkour? O estudo da Filosofia do Parkour pressupõe-se em cima dos valores e características que formam a prática. O comportamento do praticante é mediado por um conjunto de observações intrínsecas ao contexto da disciplina, como uma doutrina. Seja na própria disciplina do praticante, que persiste em seu desenvolvimento, na repetição de exercícios e estabelecimento de novas metas ou em seu comportamento, que através dos valores estimulados pela prática, acaba por determinar ao tracer, uma postura ética.

Tanto a ética quanto a moral lidam com a idéia de valor, isto é, os valores que mediam nossas ações, nossos comportamentos e nosso modo de ver e de viver a vida. Entretanto, enquanto o domínio da moral reflete e diz respeito aos valores mais universais, mais plurais e comuns – aqueles que normalmente herdamos de nossos familiares ao longo de nossas vidas -, a ética corresponde à subjetivação e ao julgo dos valores morais. O que isso quer dizer? Subjetivar algo é tomar essa tal coisa sob um ponto de vista particular. Isso ocorre quando das normas gerais apreendidas desde que nascemos, filtramos certos valores que achamos mais pertinentes para nossas vidas. Essa atitude é um ato de subjetivação, pois o sujeito particular está agindo sobre determinada idéia, analisando e julgando se ela é coerente ou não.

Esse comportamento é exatamente o mesmo que nós realizamos, enquanto praticantes conscientes, tracers. Tente lembrar-se de todas as lições provindas do Parkour que se aplicam à sua vida cotidiana. “Ser e durar” ou até mesmo “ser forte pra ser útil”, embora o lema seja emprestado do Método Natural. Ativar seu espírito altruísta alimentar-se bem, exercitar-se. Ser responsável pelos próprios atos. Quando responsabilizamo-nos por nossos atos, assumindo nossos erros, também assumimos nossas conquistas. Treinar para si mesmo. Respeitar os próprios limites. Respeitar o próximo. O Parkour estimula essa consciência.

Para que haja conduta ética, pois, é preciso que exista o agente consciente, isto é, aquele que conhece a diferença entre bem e mal, certo e errado, permitido e proibido, virtude e vício. A consciência moral não só conhece tais diferenças como é capaz de julgar o valor dos atos e das condutas do agir em conformidade com os valores morais, sendo isso responsável por suas ações e seus sentimentos e pelas conseqüências do que faz e sente. Consciência e responsabilidade são condições da vida ética.

Acredito que o Parkour desperte esse tipo de atitude. Mas não dou créditos apenas para o Parkour, entendo que outras artes sejam capazes de despertar o mesmo tipo de sentimento em seus adeptos, artes marciais, por exemplo, quando praticadas de maneira séria, obviamente.

Agora a parte que acho mais relevante, as condições desse sujeito ético:

Ser consciente de si e dos outros, isto é, ser capaz de reflexão e de reconhecer a existência dos outros como sujeitos éticos iguais a ele;

Ser dotado de vontade, isto é, de capacidade para controlar e orientar desejos, impulsos, tendências, sentimentos (para que estejam em conformidade com a consciência) e de capacidade para deliberar e decidir entre várias alternativas ou caminhos possíveis;

Ser responsável, isto é, reconhecer-se como autor da ação, avaliar os efeitos e conseqüências dela sobre si e sobre outros, assumi-la bem como às suas conseqüências, respondendo, por elas;

Ser livre, isto é, ser capaz de oferecer-se como causa interna de seus sentimentos, atitudes e ações, por não estar submetido a poderes externos que o forcem e o constranjam a sentir, a querer, e a fazer alguma coisa. A liberdade não é tanto o poder para escolher entre vários possíveis, mas o poder para autodeterminar-se, dando a si mesmo as regras de conduta.

A meu ver, todas essas condições são facilmente aplicáveis ao comportamento e conduta de um legítimo tracer. Então se conscientize.
Agente consciente > sujeito ético > um tracer melhor > uma pessoa melhor.

Nome: Parkour, filosofia e ética
Autor: Bruno “Rachacuca” Peixoto
Data: Outubro de 2007

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